Observatório do Clima divulgou
mapeamento dos biomas brasileiros feito em parceria com outras entidades. 70 a
80% dos peixes, crustáceos e moluscos que a população consome precisam do
mangue em alguma fase da vida.
O Brasil perdeu 20% de sua área de
manguezais em 17 anos, em parte destruídos pela expansão urbana. O dado faz
parte da segunda coleção de mapas do Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e
Uso do Solo no Brasil (MapBiomas), feito pelo Observatório do Clima em
colaboração com 18 instituições. (Veja vídeo acima)
Universidades,
organizações não governamentais e empresas de tecnologia contribuíram para o
trabalho, considerado o maior levantamento sobre a cobertura vegetal do Brasil.
A mais recente radiografia dos biomas brasileiros comparou imagens de satélite
nos últimos 17 anos.
A pesquisa
mostra que, no Paraná, os manguezais diminuíram 23%. Na Bahia, a redução foi
21%, enquanto em Alagoas foi de 14%. A redução da área de mangue é ligada a uma
série de fatores, mas a expansão urbana se destaca.
“Principalmente
ocupação imobiliária, tanto causada pelo crescimento do turismo, a instalação
de novos resorts, hotéis, pousadas como também pela ocupação também das
comunidades. Algumas comunidades vulneráveis acabam sendo pressionadas e
ocupando as margens dos manguezais, construindo suas casas com a madeira do mangue,
inclusive”, explica José Ulisses Santos, analista ambiental e chefe substituto
da área de Proteção Ambiental Costa dos Corais AL/PE.
O mangue é o
berçário da inúmeras espécies marinhas: 70 a 80% dos peixes, crustáceos e
moluscos que a população consome precisam do bioma em alguma fase da vida. “Tem
diversos peixes que utilizam a área de reprodução e depois voltam pro mar,
espécies economicamente importantes. Então você acaba afetando não só a
biodiversidade como a própria economia”, explica Fernanda Niemeyer, veterinária
do Centro de Pesquisas do Nordeste (Cepene).
![]() |
Peixe-boi é uma das espécies que sofre com a diminuição dos manguezais brasileiros (Foto: Guillaume Souvant/AFP) |
Sem o mangue, várias espécies correm o
risco de desaparecer do planeta. Entre elas está o peixe-boi, que frequenta o
mangue pra procriar, se alimentar e beber água doce. O peixe-boi é o mamífero
marinho mais ameaçado de extinção do país e o manguezal é o seu principal
refúgio.
“Se não forem
tomadas medidas urgentes, essas espécies que vivem diretamente em volta do
mangue elas podem ser totalmente afetadas, inclusive vir a se extinguir algumas
espécies ou acabar, ou quase acabar com outras que possam estar dependendo
deste ambiente”, alerta a veterinária.
As fazendas de
produção de camarão, a construção de estradas e o assoreamento dos estuários -
braços de mar que encontram os rios - também estão devastando os manguezais.
A regeneração
do mangue pode demorar décadas, alertam os especialistas. “São árvores jovens,
não muito velhas, duram até 60, 70 anos, mas em 30 anos, até no máximo 20, 30
anos a gente pode ter uma floresta de mangue com a sua fauna associada”, aponta
o oceanógrafo e biólogo da Universidade de Pernambuco (UPE), professor Clemente
Coelho Junior.
Esperança
Por outro lado, avolta gradual da floresta atlântica é
um exemplo de que é possível reverter o processo. O bioma, que teve sua
cobertura original reduzida a 12,5%, cresceu de 276 mil quilômetros quadrados
em 2001 para 301 mil quilômetros quadrados em 2015.
No Paraná,
houve um crescimento de 5 mil quilômetros quadrados de mata, principalmente por
recuperação de áreas de preservação permanente, como margens de rios. Em
relação à área total, o Rio de Janeiro teve 17,8% de florestas a mais em 2015
em comparação com 2001, um crescimento de 10 mil para 12 mil quilômetros
quadrados.
Postar um comentário
Blog do Paixão